Os batuques envolvem a sua voz e a sua voz envolve os batuques. Ao ouvir este disco sinto-me transportado para uma paisagem aonde coabitam a selva e a cidade, algo que vem da pré-história da minha alma e das longinquas miragens do futuro de todos os futurismos, e tudo isso vivificando em intensidade de galope de paixões de sensualismos e doçuras, o presente. Tudo isso tem seduções cheias de mistérios sem fim, e espasmos de luz de estrelas da beleza.

As canções, o som dos instrumentos, ritmos e sincopadas, harmonias e dissonâncias, a voz ondulante de requebros e requebrados com interpretação romântico sensual, tem mensagem de fulgor de vida e realização do amor, da felicidade, da alegria, da paixão e do orgasmo.

Batuques dentro de batuques, canções que são histórias e proclamações de lendas de amor, realizáveis, palpáveis, apalpáveis, e que através deste som parece que existem de fato dentro de mim. Os sons deste disco são faíscas de alegria com certa ironia de melancolia, que desintegram neuroses de mau humor e depressão sombria. A paz dentro da guerra, o bem vencendo o mal através de vibrações de mantras cantados como feitiço sensual banhado em luz cintilante. E todo este som é sofisticadíssimo e carrega reflexos, partículas, pequenos átomos de antigos e eternos carnavais, mas aonde sempre ecoa o som da interpretação atual e futurista das coisas, e das coisas do bem querer.

É um itinerário de viagem pelo Brasil Universal do século vinte e um da quarta dimensão. O som deste disco me transporta para uma paisagem que é ao mesmo tempo selva e jardim, e por entre as árvores e cipós arranha-céus arranhando céus de cor azul do céu da Bahia. Parece que estou cercado por uma ciranda de alegria eterna, aonde mágoas daninhas viram águas marinhas, e no meio da selva com arranha-céus, semi ocultos por detrás das plantas estão rindo, cantando e batendo palmas o saci-pererê, a anta, a capivara, a sereia Yara, o bôto cor de rosa do amazonas, o Curupira e a Mula sem cabeça, um robot cyborg eletrônico e um extra-terrestre atônito!

Dá uma vontade louca de beijar a boca da cantora!!!

E sair dançando por aí, sentindo o azul da felicidade do céu do Brasil brilhando lá em cima!!!
Jorge Mautner